Conto em vídeo
Em Busca da Perfeição
Por Raquel Machado
As batidas do meu coração soam como o barulho do tambor. A corrida é
cansativa e parece não ter fim, o suor escorre pelo meu rosto. Olho para os lados em
busca de distração. Poucas pessoas preenchem o ambiente, elas também estão em busca
Próximo aparelho. Luto contra a vontade de largar tudo e ir para casa. Todos os
dias é a mesma rotina que não traz resultados concretos. Olho-me no espelho e vejo
aquele ser nojento e enorme. É necessário ficar mais alguns minutos. As últimas pessoas
vão embora e me deixam sozinha.
Chega! Caminho até a porta da academia. Está trancada. Chamo por alguém, em
vão. A essa hora todos já foram para suas casas.
Uma vertigem me atinge e meu estômago reclama. Tento lembrar qual foi minha
última refeição. A comida é o combustível para o monstro que eu carrego dentro de
Volto ao salão e ligo a televisão. Retiro da bolsa o pequeno sanduíche natural e
dou uma bela mordida, e me arrependo em seguida.
A propaganda mostra uma linda mulher apresentando uma nova técnica de
emagrecimento, talvez essa funcione comigo. A mulher aponta para mim, tentado me
alertar de algo, tento compreender o que ela diz. Olho para o sanduíche e vejo que
minhocas saem de dentro e uma gosma amarela escorre por meus dedos.
Corro para o banheiro vomitar. Olho meu reflexo que sorri para mim. Ele
conhece meus defeitos e acha engraçada minha tentativa frustrada de ser alguém
Escuto vozes que me chamam. Vou até o salão e vejo que meu reflexo me
seguiu. Ele ganhou vida própria e me chama em direção ao espelho, quer me contar um
segredo. Eu obedeço e caminho em sua direção, ao chegar próximo ele desaparece,
Alguém toca meu ombro, tenho medo de virar e me defrontar com tudo aquilo
que tentei esconder até o momento. A curiosidade é maior que o medo e viro-me. Uma
versão perfeita de mim, me encara.
As vozes voltam a me chamar. As reconheço. São as pessoas que passaram por
minha vida, cobrando-me a perfeição: ser mais bela, ser mais magra, ser mais
inteligente. Sempre mais. Choro desesperada. A minha versão perfeita me estende a
mão, e eu entendo o que preciso fazer. Não é hora de parar. Volto ao local de
treinamento e continuo meus exercícios. Incansável, até não escutar mais o barulho do
tambor e nem minha respiração.
A luz do sol preenche o ambiente, outrora escuro. A porta se abre e passo por
um corpo no chão. Vejo uma garota pálida e franzina, morta.
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